JANELA DE TOMAR
Blog do Projeto de Pesquisa coordenado pelas professoras Alana El Fahl e Flávia Aninger, do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia. Este projeto busca estabelecer um estudo analítico da presença de matrizes culturais do ocidente em narrativas portuguesas e brasileiras produzidas entre o século XIX e a contemporaneidade.
segunda-feira, 3 de abril de 2017
terça-feira, 20 de novembro de 2012
PORTUGAL NA JANELA
Renata Cruz
Portugal,
país dos grandes amores, dos grandes nomes da literatura, da tradição e da
modernidade - seus encantos nos deixam maravilhados. Lembro-me do dia em que
sentei à beira do rio Mondego, saboreei um típico chocolate quente acompanhado
de um saboroso pastel de Belém, tendo a vista magnífica do Convento de Santa
Clara - a - Nova, monumento construído no século XVII. Refleti que, há muitos
anos atrás, Eça de Queiroz e Camões, mesmo sendo de épocas tão distintas, ali estiveram
em algum momento de suas vidas, no mesmo lugar onde eu estava.
Monumentos históricos estão por todos os
lados da cidade de Coimbra, como a Biblioteca Joanina, o Jardim da Manga, o
Jardim botânico, a Sé Velha e Sé Nova, a Quinta das Lágrimas, o Convento de
Santa Clara - a - Nova, lugares pertencentes à história de Portugal que fazem
parte do cotidiano, de modo natural.
Coimbra nos remete ao passado dos reis e
rainhas, como na história trágica de amor representada no Jardim da Quinta das
Lágrimas, que ilustra a história de D. Pedro e Inês de Castro, jardim cercado
de árvores gigantescas e fontes antigas, representação simbólica das lágrimas
de Inês, derramadas quando de sua cruel execução no século XIV.
Além disso, na Universidade de Coimbra,
até mesmo os corredores são repletos de lembranças. Sua arquitetura, pintura,
construções, tudo nos leva a refletir sobre o passado. Tantas histórias vividas
e tantos caminhos cruzados pelos séculos, o que a torna ainda mais esplêndida.
A cidade de Coimbra possibilita ainda hoje o
desenvolvimento da consciência cultural e contribui indescritivelmente para
aprimorar o aprendizado da cultura portuguesa. Toda esta tradição histórica de
um Portugal intelectual está descrita nas palavras do escritor português do
século XX Miguel Torga, em sua obra intitulada de Portugal: “Coimbra é uma linda cidade cheia de significação
nacional. Bem talhada, vistosa, favoravelmente colocada entre Lisboa e o
Porto...”. Torga ainda complementa que “... foi de Coimbra que saíram Camões,
Garrett, Antero, Eça e outros.” No século XVI, Camões faz referência ao rio
Mondego em sua obra mais clássica, Os
Lusíadas, como os “... saudosos campos do Mondego”.
Como não amar esta cidade? Coimbra oscila
entre o passado e o presente, torna-se dupla, uma complementa a outra, o que a
torna uma cidade querida e amada. Assim, em
Portugal, é possível ver como os séculos se entrelaçam de forma encantadora. Este
entrelaçamento pode ser encontrado no projeto de pesquisa Janela de Tomar: Matrizes culturais em narrativas portuguesas e
brasileiras. O intuito do projeto é buscar essas matrizes nas obras entre o
século XIX e a contemporaneidade, o que exige que o leitor passe a conhecer esses
intertextos que, analisados, mostrarão a interligação das obras. Pode-se
perceber que, assim como Portugal, o projeto entrecruza épocas, autores e
ideias, nos proporcionando um grande retrato da Literatura e da Cultura.
sábado, 17 de novembro de 2012
Tradição e Talento Individual: a janela de Eliot
T.S ELIOT (1888-1965) |
Por Jaciene Andrade
Quais os
limites da individualidade do artista e até que ponto as forças da tradição
agem sobre a sua obra? Essa indagação motiva o Projeto de Pesquisa Janela de Tomar a investigar a presença
de elementos da tradição ocidental nas literaturas portuguesa e brasileira
produzidas entre o século XIX e a contemporaneidade. O encadeamento das obras
literárias segue uma lógica de recriações das matrizes culturais, ainda que nem
sempre fiquem explicitadas no texto.
No ensaio “Tradição e talento individual”,
publicado em 1920, o crítico literário e poeta T. S. Eliot reflete sobre tais
questões diante da tendência geral de se buscar no artista, como saudável, os
elementos que o diferenciam de seus antecessores, a marca individual. Porém,
segundo Eliot, pode acontecer de, exatamente nas passagens consideradas mais
individuais, encontrarmos as vozes de outrora que continuam embasando os
discursos do presente. Ou seja, o que fundamenta a teoria de Eliot – e embasa
os rumos deste Projeto – é a afirmativa de que a tradição se infiltra no texto
literário, mesmo nos espaços mais supostamente individuais.
Para o
ensaísta, a tradição é sempre fruto de um esforço. O artista que empreende tal
esforço consegue ser tradicional, o que significa ter a percepção da distância
e proximidade do passado, reunindo sentimentos atemporais ao tempo em que vive.
Por isso, o autor afirma não existir obra de arte desvinculada das relações de
contraste e comparação com outras. Uma comparação que se exige não-harmônica,
já que toda obra de arte também se define pela novidade. Por isso, a tradição
vai muito além da repetição, ela é o desenvolvimento do sentido histórico, da
consciência do passado.
Segundo Eliot,
o poeta é aquele que bem desenvolveu essa consciência, compreendendo o passado como
elemento que modifica o presente, pelo qual é orientado. Tendo uma
personalidade, o poeta não a imprime em sua obra. A mente do artista catalisa
emoções e sentimentos, possibilitando novas combinações que não estarão necessariamente
presas às palavras, mas, disponíveis, sobrevoando o universo do texto.
Separado o
homem de sua mente criadora, a tradição, formada por uma mentalidade coletiva
que se sobrepõe e se mistura à individual, dá vazão a diálogos com a
ancestralidade, como ocorre no poema do próprio Eliot “The Waste Land”. Nele, é nítida a presença da tradição, já que o poema
remete ao ato de escavar, trazendo à tona a memória da humanidade. The Waste Land é o poema da teoria
eliotiana. Os fragmentos que escoram suas ruínas, parafraseando o poeta,
mostram que o presente é feito com base em sucessivas recordações do passado.
Uma tradição mais forte do que o artista.
Referências:
ELIOT, T. S. Tradição e talento individual. In: ______. Ensaios. Tradução: Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Art
Editora, 1989.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
A JANELA
Quem olha para esta janela sobre sua base de pedra, talvez diga que é exageradamente complicada. Atravessam-na volteios, laços, treliças, símbolos, formando um conjunto que exige um olhar decifrador. A janela, prestando-se ao delicado ofício de mirar, a ele também se oferece. Na grande rede cultural da Literatura, dialogam conosco e de dentro dos textos que lemos, as leituras efetuadas pelos escritores de todos os tempos.
A pesquisa que empreendemos busca estabelecer um estudo analítico da presença de matrizes culturais do ocidente em narrativas portuguesas e brasileiras produzidas entre o século XIX e a contemporaneidade. É fato que boa parte das produções científicas e artísticas são construídas a partir da re-elaboração de uma herança cultural que as antecede. Com a literatura, esse procedimento potencializa-se e a presença das matrizes culturais que alimentam a história da humanidade se corporifica nos textos. A Mitologia greco-romana, a Bíblia Sagrada e, sobretudo, elementos da própria literatura estão sempre presentes nas obras, ora mais explícitos, ora mais implícitos. É, pois, em busca de identificar e realizar uma leitura analítica de tais referências, citações, relações e adaptações dessas matrizes que nos pomos a caminho, dispostas a deslindar os imbricados fios que se nos apresentam.
A pesquisa que empreendemos busca estabelecer um estudo analítico da presença de matrizes culturais do ocidente em narrativas portuguesas e brasileiras produzidas entre o século XIX e a contemporaneidade. É fato que boa parte das produções científicas e artísticas são construídas a partir da re-elaboração de uma herança cultural que as antecede. Com a literatura, esse procedimento potencializa-se e a presença das matrizes culturais que alimentam a história da humanidade se corporifica nos textos. A Mitologia greco-romana, a Bíblia Sagrada e, sobretudo, elementos da própria literatura estão sempre presentes nas obras, ora mais explícitos, ora mais implícitos. É, pois, em busca de identificar e realizar uma leitura analítica de tais referências, citações, relações e adaptações dessas matrizes que nos pomos a caminho, dispostas a deslindar os imbricados fios que se nos apresentam.
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