T.S ELIOT (1888-1965) |
Por Jaciene Andrade
Quais os
limites da individualidade do artista e até que ponto as forças da tradição
agem sobre a sua obra? Essa indagação motiva o Projeto de Pesquisa Janela de Tomar a investigar a presença
de elementos da tradição ocidental nas literaturas portuguesa e brasileira
produzidas entre o século XIX e a contemporaneidade. O encadeamento das obras
literárias segue uma lógica de recriações das matrizes culturais, ainda que nem
sempre fiquem explicitadas no texto.
No ensaio “Tradição e talento individual”,
publicado em 1920, o crítico literário e poeta T. S. Eliot reflete sobre tais
questões diante da tendência geral de se buscar no artista, como saudável, os
elementos que o diferenciam de seus antecessores, a marca individual. Porém,
segundo Eliot, pode acontecer de, exatamente nas passagens consideradas mais
individuais, encontrarmos as vozes de outrora que continuam embasando os
discursos do presente. Ou seja, o que fundamenta a teoria de Eliot – e embasa
os rumos deste Projeto – é a afirmativa de que a tradição se infiltra no texto
literário, mesmo nos espaços mais supostamente individuais.
Para o
ensaísta, a tradição é sempre fruto de um esforço. O artista que empreende tal
esforço consegue ser tradicional, o que significa ter a percepção da distância
e proximidade do passado, reunindo sentimentos atemporais ao tempo em que vive.
Por isso, o autor afirma não existir obra de arte desvinculada das relações de
contraste e comparação com outras. Uma comparação que se exige não-harmônica,
já que toda obra de arte também se define pela novidade. Por isso, a tradição
vai muito além da repetição, ela é o desenvolvimento do sentido histórico, da
consciência do passado.
Segundo Eliot,
o poeta é aquele que bem desenvolveu essa consciência, compreendendo o passado como
elemento que modifica o presente, pelo qual é orientado. Tendo uma
personalidade, o poeta não a imprime em sua obra. A mente do artista catalisa
emoções e sentimentos, possibilitando novas combinações que não estarão necessariamente
presas às palavras, mas, disponíveis, sobrevoando o universo do texto.
Separado o
homem de sua mente criadora, a tradição, formada por uma mentalidade coletiva
que se sobrepõe e se mistura à individual, dá vazão a diálogos com a
ancestralidade, como ocorre no poema do próprio Eliot “The Waste Land”. Nele, é nítida a presença da tradição, já que o poema
remete ao ato de escavar, trazendo à tona a memória da humanidade. The Waste Land é o poema da teoria
eliotiana. Os fragmentos que escoram suas ruínas, parafraseando o poeta,
mostram que o presente é feito com base em sucessivas recordações do passado.
Uma tradição mais forte do que o artista.
Referências:
ELIOT, T. S. Tradição e talento individual. In: ______. Ensaios. Tradução: Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Art
Editora, 1989.
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